A discussão de Nilza Garcia Martins foi destacada
Fantasias e realidade no Centro Espírita por Éder Fávaro
Abrindo o livro dos Médiuns, deparamos logo de início, na sua introdução, com a afirmativa de Kardec sobre as dificuldades e desilusões encontradas na prática espírita, que decorrem da ignorância dos princípios doutrinários. Mais adiante, ele continua fazendo observações importantes, tais como: "A prática espírita é difícil, apresentando escolhos que somente um estudo sério e completo pode prevenir". Experiências feitas com leviandade, sem conhecimento de causa, provocam péssima impressão nos principiantes ou pessoas mal preparadas, tendo o inconveniente de dar uma idéia bastante falsa do mundo dos espíritos, favorecendo a zombaria e dando motivos a críticas quase sempre bem fundadas. É por isso que os incrédulos saem dessas reuniões raramente convencidos e pouco dispostos a reconhecerem os aspectos sérios do Espiritismo".É evidente que Kardec não falava só para o seu tempo. Prevendo o progresso do Espiritismo, e o aumento crescente de interesse com relação a ele, alertava sobre a responsabilidade dos dirigentes e médiuns das reuniões espíritas de todos os tempos quanto aos compromissos da preservação e defesa da pureza doutrinária.Pelo que temos observado em visitas a um número considerável de Centros e através de informações idôneas, a preocupação de Kardec não era sem propósito.Os desvirtuamentos, as invenções, as infiltrações de idéias e práticas antidoutrinárias são uma realidade em muitas "Casas Espíritas" do nosso Estado, quiçá do Brasil.Dentre as novidades que nada têm a ver com o Centro Espírita, podemos destacar, muito embora respeitáveis em suas respectivas áreas, a Radiestesia, a Cromoterapia, a TVP e outras, que não devem ser consideradas atividades do Centro.Há ainda práticas e orientações fantasiosas que não podem e nem devem ser incluídas como propostas da Doutrina Espírita. Elas são frutos da falta de conhecimento, da ignorância e até da irresponsabilidade de dirigentes e colaboradores, muitas vezes mal intencionados, que não visam outra coisa se não o poder, a projeção, o destaque pessoal, colocando seus interesses particulares acima da Causa.É verdade que existem muitos Centros Espíritas que desenvolvem suas atividades fundamentadas nos norteamentos Kardecistas, com estudos sérios, atendimento fraterno, orientação doutrinária segura, critérios corretos e aplicação da ética espírita em todos os sentidos, mas há inúmeros que se utilizam da denominação "Espírita", estando, no entanto, totalmente distanciados dos postulados da doutrina.Essa é uma realidade, dela temos que ter conhecimento. Por exemplo: há "Centros Espíritas" que benzem objetos, roupas e fotografias, que se dedicam em pesquisas sobre vidas passadas com objetivos escusos, que fazem revelações sensacionalistas de vidências, provocando desajustes em pessoas psicologicamente despreparadas, que fazem das reuniões mediúnicas um espetáculo, e ainda outros que são dirigidos só por "Missionários", sem contar com outra categoria de "Centros" que caracterizam todos que os procuram como doentes e obsedados. Não bastassem esses, há os que até recebem comunicações de espíritos vindo de outras galáxias, que indicam o uso do defumador para a solução dos problemas humanos, que introduzem hinos em suas reuniões, que realizam batizados e casamentos, e dão às suas reuniões um caráter eminentemente ritualístico.Esses "Centros", em termos de orientação, acabam extrapolando e entrando no terreno movediço do "Achismo". Respondem sobre tudo sem o mínimo embasamento doutrinário, bom senso e critério. Os seus dirigentes e médiuns, via de regra, transferem a responsabilidade de suas opiniões aos espíritos, afirmando não serem eles os autores das idéias e sim os mentores. São pródigos nos aconselhamentos e orientações estapafúrdias e pueris, que conduzem as criaturas a uma visão errônea a respeito dos fundamentos e ensinamentos do Espiritismo, provocando com isso, em alguns casos, processos de perturbação e obsessão.É o ressurgimento da mágica, do mistério, da fantasia, do maravilhoso e do sobrenatural, contrastando diametralmente com a visão espírita a respeito dos fatos. Kardec ainda no Livro dos Médiuns, cap. II, observa que "o Espiritismo não aceita todos os fatos considerados maravilhosos. Longe disso, demonstra a impossibilidade de muitos deles e o ridículo de algumas crenças que constituem, propriamente falando, a superstição".Até no campo da administração do Centro Espírita encontramos casos absurdos em que os espíritos, através de "médiuns confiáveis do grupo", elaboram chapas de eleição para a direção da entidade, atestando a incompetência dos encarnados para dirigirem a obra.Para reforçar o nosso enfoque, passamos a relatar alguns casos, dentre outros tantos que tivemos a oportunidade de vivenciar ou conhecer. Retratam o triste quadro do mediunismo introduzido como sendo prática mediúnica à luz da metodologia espírita. Na realidade, são verdadeiros focos de mistificações que só retardam o progresso e o crescimento espiritual de seus participantes - médiuns, dirigentes e assistentes:Um médium que conhecemos trabalhava numa Casa Espírita, dedicando algumas horas de trabalho em reunião de desobsessão. Premido pelas circunstâncias, necessitou reduzir a sua atividade doutrinária no grupo. Recebeu, por isso, advertência do dirigente do trabalho, de que estava sendo envolvido por atuação dos espíritos das trevas, tornando-se, assim, candidato a uma grave obsessão.Será essa a atitude de espíritos responsáveis que dirigem reuniões sérias?O presidente de uma Casa Espírita, onde fomos recebido, afirmou certa feita, que o seu grupo tinha ligação com a Espiritualidade superior através de um canal de luz, que descia das alturas e vinha até o meio da sala do "seu" Centro, por onde desciam e subiam espíritos superiores, achando que esse era o único canal de ligação entre o plano espiritual e a terra.Onde está a lógica e o bom senso?Temos notícia de um Centro que tem um estatuto que elegeu o seu presidente vitaliciamente, enquanto encarnado, e "mentor" do Centro após o seu desencarne. Tudo isso por inspiração do Dr. Bezerra de Menezes.Pasmem, senhores! Envolveram no esquema, até o nome desse respeitável espírito.Depois de realizar palestra numa Casa Espírita, falando sobre "O que não é Espiritismo", fomos convidados após a exposição, para assistir à parte prática da noite. Havia vários médiuns na mesa.Algumas comunicações repetitivas. Ao final, o Presidente do Centro, que também era dirigente do trabalho e "médium de cabeceira da mesa", recebendo o "mentor", disse que a reunião tinha sido muito bonita, mas que ele não concordava com muita coisa que a doutrina ensinava, acrescentando que ali somente as suas orientações eram válidas. Segundo o citado "mentor", Kardec tem muita coisa a aprender.Outra coisa aconteceu num Centro Espírita da capital. Sala super-lotada. Pessoas com senhas numeradas na mão para receber o passe. A mesa repleta de papeletas e fotografias de todos os tamanhos. Preparação do ambiente. Prece recitada. Em seguida, a entrada de uma médium com postura robotizada, vestida toda de branco, roupa estilo camisolão, cantando hinos sacros usados nas cerimônias ritualísticas de conhecida religião. Mas a coisa não parou por aí. À medida em que a palestra se desenrolava, a referida senhora saía de trás de uma cortina que separava a sala de passe do salão, e em voz alta chamava pelo número o candidato ao passe, que não retornava ao salão de reunião pública após ter sido atendido, esvaziando-se, paulatinamente, o local.Tudo muito estranho e preocupante para mim. Diante disso tudo, vejamos o que tem a nos dizer o Prof. José Herculano Pires, no livro de sua autoria, denominado "O Centro Espírita":"Os dirigentes de Centros precisam tomar conhecimento desses absurdos e lutar contra eles, porque essas invencionices ridículas atrasam o desenvolvimento da Doutrina e afastam dos Centros as pessoas que sabem pensar. Que os dirigentes, por mais modestos que sejam, não se esqueçam da bússola que lhes permitirá navegar com segurança nas águas tumultuosas: a Codificação de Allan Kardec. Kardec é a base e a cúpula da Doutrina, com apoio que nunca lhe faltou do Espírito da Verdade. Se não queremos novidades é porque os novidadeiros somente se apóiam em suas pretensões individuais".Os dirigentes espíritas precisam tomar conhecimento de que não se pode misturar uma doutrina científica e filosófica como é o Espiritismo com práticas que não se coadunam com ela. Não se trata de um repúdio, mas de uma questão de método e cultura.O Centro Espírita bem dirigido por pessoas sensatas e estudiosas é uma concha acústica em que ressoam as vozes e os pensamentos dos Espíritos e dos homens, no diálogo dos mundos, pois nele se encontram o mundo espiritual e o mundo terreno, nas possibilidades abertas pelos dons mediúnicos de que todos dispomos.Os que deturpam a finalidade superior do Centro Espírita, sejam dirigentes ou freqüentadores, só interessados em vantagens imediatas, perdem a oportunidade de se elevarem a uma visão superior do mundo, do homem e da vida. Se cada freqüentador do Centro Espírita quiser ajudá-lo na sua missão superior de preparar os homens para um mundo melhor, a dinâmica do Centro intensificar-se-á para o bem de todos.Portal de EspíritoVer mais...